Era seu primeiro dia com o carro novo. Havia economizado durante anos para comprar à vista o tão sonhado carro zero. Há tanto tempo dependendo de ônibus, ela se viu no céu ao se sentar no automóvel com cheirinho de plástico, ar-condicionado, banco confortável. Sem falar na direção hidráulica. O carro da autoescola não era leve como o seu.
Andando com seu carro novinho pela avenida, curtindo uma música, ela ia para o trabalho. Tranquila e confiante, na faixa da direita, a 60 km/hora, ela ia desfrutando de todo conforto e praticidade da vida de quem não depende de transporte público para se locomover. De repente, veio-lhe à mente os dias difíceis em que tinha que acordar muito cedo e enfrentar ônibus lotados para chegar ao seu destino duas horas depois. Quando chovia, era o caos. Fora o cheiro desagradável do suor alheio.
Esquivou-se dos pensamentos ruins da antiga vida e, como estava distraída, não viu uma cratera que lhe esperava: bateu no buraco. Levou um susto e tentou continuar seguindo seu caminho, mas não teve jeito. O volante começou a puxar para o lado direito. Logo imaginou que tinha quebrado alguma coisa no choque. Encostou o carro na guia e desceu sem saber o que fazer. Andou até o lado direito e encontrou o problema: o pneu estava furado. E agora?
Os carros passavam por ela, apressados, sem notar seu desespero. Tinha uma reunião importante naquele dia, não podia chegar atrasada. Mas nunca tinha trocado um pneu na vida. No cursinho da auto-escola, não tivera aula prática disso. Não tinha para quem pedir socorro, pois morava sozinha naquela cidade e havia mudado há pouco tempo. Não conhecia nenhum mecânico. Não havia nenhum comércio aberto àquela hora. Ainda não tinha feito o seguro do carro. Não sabia o que fazer.
Mas a solução vinha em sua direção. Grande, imponente, devagar. A moça pegou sua bolsa, trancou o carro e correu ao seu encontro. Acenou e ele parou. Ela entrou aliviada. Mas logo foi invadida pela frustração. Tinha voltado à estaca zero.
Espremida e pendurada em um dos mastros, lá estava ela andando de ônibus novamente.

* Primeira lei de Murphy: Se uma coisa pode dar errado, dará! E mais! Dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
Se a lei de Murphy valesse de verdade, certamente ela não encontraria um ônibus a tempo. Mas, de qualquer forma, que vida irônica a nossa, não?!
ResponderExcluirBem observado, Adri! É que não foi um fato verídico e não me atentei para esse detalhe. Mas se tivesse realmente acontecido comigo, certamente não veria um ônibus tão cedo... Teria que ligar para um moto-táxi!
ResponderExcluirachei muito interessante seu blog , espero que continue sendo assim!!!
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