O “adeus” de Teresa
Castro Alves
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos ... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala ...
E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.
Uma noite ... entreabriu-se um reposteiro ...
E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus ...
Era eu ... Era a pálida Teresa!
“Adeus”lhe disse conservando-a presa ...
E ela entre beijos murmurou-me: “adeus”!
Teresa
Manuel Bandeira
A primeira vez que eu vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas
O poema "Teresa" faz referência ao poema de Castro Alves ( poeta do Romantismo), construindo um novo poema e apresentando uma nova Teresa.
Agora escute a música “Teresinha”, de Chico Buarque.
Você se lembrou de uma música conhecida de sua infância ao ouvir a música Teresinha? A música de Chico também faz referência à música infantil “Teresinha de Jesus”.
Terezinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele
Que a Tereza deu a mão
Veja outras intertextualidades:
Na pintura:
E o que é Paródia?
Paródia é uma imitação, na maioria das vezes cômica, de uma composição literária (também existem paródias de filmes, músicas, pinturas, etc), sendo, portanto, uma imitação que geralmente possui efeito cômico, utilizando a ironia e o deboche. Ela geralmente é parecida com a obra de origem e quase sempre tem sentidos diferentes. Na literatura, a paródia é um processo de intertextualização, com a finalidade de desconstruir ou reconstruir um texto.
A paródia surge a partir de uma nova interpretação, da recriação de uma obra já existente e, em geral, consagrada. Seu objetivo é adaptar a obra original a um novo contexto, passando diferentes versões para um lado mais despojado, e aproveitando o sucesso da obra original para passar um pouco de alegria.
Os Simpsons estão parodiando a capa de um dos discos dos Beatles.
E quem não se lembra da propaganda da esponja de aço Assolan. Foram feitas várias paródias de músicas para a esponja: Rebolation virou Assolation, Festa no apê virou a Família não para de crescer. Confira a propaganda com a paródia da música do Latino.
Outro exemplo:
"Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossos campos tem mas flores."
(Canção do exílio - Gonçalves Dias, poeta romântico brasileiro)
A paródia de Oswald de Andrade:
"Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá"
Reparem que "palmares", na verdade trata-se do Quilombo dos Palmares, ou seja, a expressão do nacionalismo crítico do movimento modernista brasileiro da vertente Pau-Brasil.
Paródia trata-se, portanto, de um interessante recurso, pois mostra que emissor (escritor) adota um posicionamento crítico, “brinca” com o texto parodiado. Ela enriquece o trabalho com a escrita, uma vez que nos fornece valiosos subsídios para articularmos ideias de um modo criativo.
Para finalizar, segue a paródia de Millôr Fernandes para o poema "Vou-me embora pra Pasárgada", de Manuel Bandeira.
Vou-me embora de Pasárgada
Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do Rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha,
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país.
A gente só faz ginástica
Nos velhos trens da Central
Se quer comer todo dia
A polícia baixa o pau
E como já estou cansado
Sem esperança num país
Em que tudo nos revolta
Já comprei ida sem volta
Pra qualquer outro lugar
Aqui não quero ficar.
Vou-me embora de Pasárgada
Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
E nem fome nem doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
Drogas são falsificadas
E prostitutas aidéticas
São as nossas namoradas.
E se hoje acordei alegre
Não pensem que vou ficar
Nosso futuro já era
Nosso presente já foi
Dou boiada pra ir embora
Pra ficar não dou um boi .
Dou quase nada, coisa pouca,
Somente uma vaca louca.
Millôr Fernandes
muito bom!
ResponderExcluirMuito bom mesmo!!!Pa-ra-béns!!!
ResponderExcluirQue bom que gostaram!
ResponderExcluirObrigada por apreciarem o blog!
Boa!
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